Comentários sobre o filme “Shame”

No final de semana passado corri ao cinema para assistir “Shame” (vergonha em português), com direção de Steve McQueen.

Trata-se de um filme denso e angustiante, na medida em que se propõe a retratar, com muita sensibilidade e estilo poético, a condição de extrema solidão de Bradon (Michael Fassbender), um homem bem sucedido de Nova York, viciado em sexo.

Isolamento e angústia:

Gostaria de começar meus comentários chamando a atenção para o clima emocional que, a meu ver,  permeia o filme do início ao fim. Grande parte das cenas são filmadas em prédios hermeticamente fechados, com vidros transparentes. Tanto a casa de Bradon quanto o seu escritório são assim: caixas de vidro que me remeteram à uma insuportável sensação de sufocamento. Também associei estes cômodos / caixas de vidro à vitrines, na medida em que tudo fica exposto para o mundo exterior, mas nada pode ser de fato conhecido intimamente porque há barreiras intransponíveis entre o interno e o externo.

Da mesma forma que o sexo (há algumas cenas que mostram casais tendo relações sexuais que poderiam ser vistas pelas pessoas na rua) passa a ser vivenciado como uma mercadoria exposta na vitrine e que tem como único propósito o alívio de angústias impensáveis. Penso que esta é uma contradição típica do nosso momento histórico: apesar da exposição que vivemos na Internet onde tudo pode ser absolutamente exposto, intimidade e encontro fértil com o outro são temidos.

Desta forma, acredito que o filme retrata, sobretudo, uma das contradições do homem contemporâneo entre sua imagem pública de pessoa poderosa e bem-sucedida contraposta à sua vivência privada, que é de extrema solidão e isolamento.

Outro impacto que senti, remete à outra questão que gostaria de discutir: apesar de haver durante todo o filme várias cenas de sexo, as mesmas expressavam, pelo menos a me ver, uma profunda dor e desamparo psíquico. Eram cenas angustiantes e não excitantes.

Mas porque todas estas cenas de sexo explícito não provocam excitação e sim angústia?

Acredito que isso ocorria pela função que o sexo tinha na vida de Bradon, que parecia recorrer à uma excitação sensorial visando evacuar angústias primitivas intensas.

Conforme assevera Bion em seu livro “Estudos Psicanalíticos Revisados”, diante da impossibilidade de se sonhar algumas experiências catastróficas, o indivíduo busca atividades sensoriais que visam evacuar suas angústias (que ele chama de elementos beta), algo que parecia ocorrer no caso do personagem.

Desta forma, a excitação sexual não era vivenciada como um encontro verdadeiro e afetivo com as mulheres com as quais se relacionava, mas como atividades masturbatórias capazes de aliviar sua angústia. Ressalta-se que no momento em que ele começa a se interessar verdadeiramente por uma mulher, ele não consegue ter ereção, provavelmente porque a penetração afetiva fosse demais para ele suportar.

Vínculo incestuoso:

Há um outro elemento a ser considerado no filme: Bradon tinha uma irmã suicida e extremamente perturbada que fazia manobras para excitá-lo e invadi-lo com sua sexualidade infantil e perversa. Desta forma, o filme mostra que havia presente ali o perigo do incesto e a concretização de uma relação sexual entre ele a irmã.

Uma das hipóteses que é possível aventar, neste caso, é que, pelo medo de concretizar seus desejos incestuosos com a irmã, Bradon necessitava anestesiar-se em relações masturbatórias e sensoriais com mulheres que não podiam ter qualquer significado emocional para ele, única saída possível para se evadir da concretização do incesto.

Há, nesse sentido, cenas particularmente angustiantes e que remetem à ausência de barreiras e de limites entre ele e sua irmã: 1) sua irmã invade o seu apartamento e ele a vê nua em seu banheiro; 2) ela tem uma relação sexual com o chefe do irmão em sua cama, algo que certamente desperta em Bradon desejos incestuosos e assassinos. Nesta cena, Bradon, intoxicado com a atuação da irmã, necessita correr por horas a fio para evacuar tamanha angústia; 3) Sua irmã vai durante a madrugada se deitar com ele na cama.

Em um dos momentos mais angustiantes do filme, Bradon pede para ela vá embora de seu apartamento e ela diz a ele que não há do que eles se envergonharem, o penso ser sua alusão ao intenso vínculo incestuoso que os ligava. Bradon neste momento é firme e ela parte, mas logo em seguida, descobre que ela tentou suicídio. Moral da história: tentativas de se evadir do vínculo incestuoso levam à morte e à ataques violentos e suicidas.

A partir deste momento Bradon vive o que eu chamaria de uma completa despersonalização e fragmentação: vai à uma boate gay e encontra-se com homens na arena homossexual, conforme descreve Bollas. Este autor psicanalítico muito interessante, afirma que o mundo promíscuo das boates gays costuma ser buscado como uma tentativa desesperada de apagamento e morte psíquica, algo que penso ter motivado Bradon naquele instante.

Diante da impossibilidade de fugir ao aprisionamento incestuoso, Bradon se despersonaliza e busca na arena homossexual o apagamento de si mesmo.

O filme termina sem qualquer possibilidade de esperança: Bradon mistura-se à corpos despersonalizados: bundas, peitos, pênis – objetos parciais (ou bizarros, nos dizeres de Bion), afogando-se completamente em vivências psicóticas e despersonalizantes.

Desta forma, creio que o filme retrata com maestria (da mesma forma que o Cisne Negro conseguiu retratar) o angustiante processo de enlouquecimento ou, como diria Bion, quando as partes psicóticas da mente se sobrepujam às não psicóticas, tomando conta da personalidade do sujeito quase por inteiro.

Vergonha:

Para finalizar, acho que a escolha do título também merece algum destaque. Vi alguns comentários sobre o filme que enfatizavam aspectos culturais e sociais da sexualidade, particularmente, a americana.

Discutia-se o fato de os EUA ser uma nação que lida muito mal com a sexualidade por ser uma sociedade extremamente reprimida. Segundo os críticos, é exatamente pela intensa repressão sexual vivenciada pelos americanos que a conduta sexual individual passou a ser medicalizada e patologizada, exatamente como Foucault já havia chamado atenção. Desta forma, o título “Vergonha” remeteria à uma relação sempre culposa e culpada que os homens, particularmente os americanos, manteriam com o sexo.

Acho que esta é uma via de discussão interessante. Entretanto, na minha escrita, tentei priorizar um olhar psicanalítico sobre o grande sofrimento mental apresentado pelo protagonista. Desta forma, sem pretender cair em discussões moralizantes sobre o sexo, não posso deixar de considerar que, tal como Freud já havia sinalizado, a vivência sexual para ser prazerosa e estar à serviço da vida deve vir atrelada à possibilidade de o sujeito vivenciar relações afetivas e construir laços de intimidade com o objeto.

No caso do protagonista, o mesmo parecia incapaz de obter um prazer sexual (e genital) em suas relações. Ao contrário, o ato sexual era buscado como uma forma alucinatória de evacuar angústias intoleráveis, fazendo com que o mesmo ficasse impedido de manter vínculos amorosos em sua vida.

O que você achou desta discussão?

Participe e envie seus comentários sobre o filme.

 

21 comentários em “Comentários sobre o filme “Shame””

  1. Olá, vi o filme hoje, e por uma discussão do filme com o meu namorado, resolvi buscar outras opiniões acerca dele. Concordei bastante com o que li aqui, senti a questão da angustia na maior parte das cenas de sexo no filme, assim como acredito que a obssessão do personagem pelo sexo faz com que ele não se relacione com as pessoas e o mundo, inclusive a irmã. Esse foi o grande ponto da discussão entre eu e meu namorado. A questão que ele traz para mim é: e se é a escolha dele não se relacionar? Se ele paga as contas, tem uma vida social e gosta de sexo de uma forma que não prejudica a ninguém?
    No ponto de vista do meu namorado esse vício do personagem não o prejudica, por ele não cometer, crimes, pagar as contas, e até ser bem sucedido.
    Já eu discordava dele porque eu achava que existia sim o grande sofrimento nessa relação dele com a irmã, inclusive com relação a dificuldade dele em se relacionar e até em ajudá-la de alguma forma. Mas um outro ponto interessante é mesmo a questão de a irmã dele ter invadido o espaço dele de forma geral e principalmente a privacidade, além de ter essa tendência suicida. Daí meu namorado questiona. "Por mais que eu não concorde, me colocando no lugar dele, ele não tem obrigação de cuidar dela, nem de amá-la."
    Concordei e não concordei com isso, de fato, não somos obrigados a amar ninguém da nossa família, em casos de abuso, por exemplo, só porque é pai, ou tio, família, não existe essa obrigação. Mas no personagem do filme, apesar dessa dificuldade e da resistência do Brandon em manter essa relação, havia o vínculo afetivo, tanto que esse vínculo gera um sofrimento enorme quando a irmã tenta o suicidio no apartamento dele. E a sensação que tenho é sim de que a obsessão do Brandon pelo sexo dificultava mais ainda a relação dele com a irmã.
    Se você pudesse me escrever sobre a questão da escolha, escolher ficar só, nesse vazio e até que ponto se pode fazer algo. Queria a sua opinião sobre isso.

    1. Olá Gabriela, muito obrigada pelo seu comentário. Bem, eu acho que é difícil avaliar quem está com a razão – você ou o seu namorado – já que percepções e sentimentos sobre uma obra de arte (como no caso de um filme) é algo muito pessoal e subjetivo. Então, este filme deve ter provocado nele alguns sentimentos que não foram provocados em você e vice-versa. Desta forma, as únicas impressões que posso oferecer a você são aquelas baseadas nas minhas próprias percepções e impressões sobre o filme. Na minha opinião, eu acho que este filme traz uma interessante discussão sobre a diferente entre fazer amor e fazer sexo. Fazer amor implica, em termos psicanalíticos, na possibilidade de os dois parceiros estabelecerem um contato afetivo íntimo e genuíno em que há crescimento e desenvolvimento mental para ambos. Fazer sexo implica em um ato sensorial (que é o que me parece que ocorre no filme). Neste caso, trata-se de um ato desprovido de envolvimento afetivo com o objeto (o outro) e normalmente é utilizado para o aplacamento de angústias intoleráveis. É por isso provavelmente que muitas pessoas que fazem sexo com parceiros na noite não conseguem dormir com esta pessoa depois do ato sexual – porque dormir perto de alguém implica em grande dose de confiança no outro. O que eu acho que o seu namorado se questiona é sobre a liberdade do personagem principal em viver desta forma. E nisso ele tem razão. Cada ser humano tem total liberdade para vivenciar suas relações do modo que quiser (e puder). Entretanto, uma coisa importante a ser salientada no caso deste personagem é a seguinte: o uso excessivo da sensorialidade nas relações (sexo como forma de evacuação de angústias) leva a uma espécie de curto-circuito mental porque estas experiências não podem ser sonhadas e pensadas. Ficam sendo somente evacuadas, levando o sujeito a um profundo isolamento emocional e ao empobrecimento de suas relações. No caso da irmã do personagem, como eu disse no post, acredito que havia na relação entre eles, o risco iminente da concretização de fantasias incestuosas e isso dificultou muito o contato afetivo entre eles. Não sei se te ajudei com estas considerações, mas sinta-se à vontade para escrever novamente. Abraços

  2. Olá Ana, depois de um bom tempo após a sua indicação do filme em sala de aula eu pude ve-lo neste final de semana, com o também reforço da minha psicóloga em indicá-lo. Achei muito interessante e gosto muito dessas análises de filmes e no caso deste concordo muito com o que os 3 disseram, você, a Gabriela e o namorado dela. Acredito que o ser é livre para escolher e não só o Bradon mas muitas pessoas tem escolhido viver dessa maneira nos tempos atuais. Vemos as pessoas cada vez menos fixadas no relacionamento e mais fixadas na banalização do beijo e do sexo, sendo assim, como foi muito bem retratada no filme, uma válvula de escape para descarregar angústias e emoções. No caso de Bradon percebi que essa maneira de se relacionar implicou mudanças em todas as relações afetivas que ele tinha, e quando eu falo isso eu falo das relações não sexuais que ele tinha como por exemplo os amigos (chefe dele) e principalmente com a irmã. O grande medo dele de concretizar o ato incestuoso fez com que a relação que ele tinha com a irmã fosse muito fria e distante, as vezes até rude. Notei em uma fala dela, que ela era a “única que poderia salvá-lo dessa vida”, e quando vi o filme, senti isso. Mas vi não na maneira sexual, mais na forma de que, se ele conseguisse se abrir e estabelecer um vínculo afetivo com a irmã como dois irmãos que se amam (aceitando seus sentimentos e podendo se posicionar com relação e eles), talvez ele pudesse também se ressiguinificar com relação às outras relações. Tive a percepção que mesmo nas relações que ele tinha com mulheres superficialmente ele não chegava ao orgasmo (que só era alcançado através da masturbação). Nota-se a proximidade dele com as pessoas de hoje quando ele fala sobre a relação e o casamento que para ele não passam de uma perda de tempo. Porém essa é uma visão que acaba entrando em contradição na vida real, que ao meu ver foi retratada no filme, quando por questões internas e movido por fortes emoções Bradon vai atrás da atris morena e a beija no trabalho, e quando estão prestes a ter uma relação sexual, o protagonista do filme (como também dito pela Ana) não consegue ter ereção. Entendi isso como medo de se entregar as emoções, que é o que tem acontecido nos dias de hoje. Por medo de sofrer as pessoas não se entregam e não se dedicam como deveriam aos seus próprios sentimentos e emoções.
    Bom, essa foi a minha percepção do filme. Espero que possam responder e me dizer o que acharam principalmente ampliando a percepção que tive, e assim podermos pensar sobre isso. Abraços.

  3. Olá,o filme em questão,além da relação incestuosa,mostra uma mente atormentada,buscando o sexo não somente como fuga,mas principalmente como punição,pois em seus momentos de intimidade com desconhecidos o personagem mostra muita dor! é praticamente uma autoflagelação em todos os sentidos. Abraço. Sol

  4. Olá!
    Estou um tanto quanto “atrasada” nesta discussão, mas como acabei de ver o filme e não solucionei uma dúvida, vim buscar resposta na internet… Me pareceu que a relação incestuosa, latente e premente, da qual ele fugia desesperadamente tem como causa, talvez, abusos sexuais na infância, talvez do próprio pai… Pode ser “viagem” minha, mas o que me levou a pensar isto é um comentário com a voz dela, que diz: ” n´s não somos pessoas más, só tivemos um começo difícil”, ou algo parecido, não sei exatamente as palavras. O que você acha?
    Obrigada pela atenção.
    Madalena

  5. Olá!
    Estou um tanto quanto \"atrasada\" nesta discussão, mas como acabei de ver o filme e não solucionei uma dúvida, vim buscar resposta na internet… Me pareceu que a relação incestuosa, latente e premente, da qual ele fugia desesperadamente tem como causa, talvez, abusos sexuais na infância, talvez do próprio pai… Pode ser \"viagem\" minha, mas o que me levou a pensar isto é um comentário com a voz dela, que diz: \" n´s não somos pessoas más, só tivemos um começo difícil\", ou algo parecido, não sei exatamente as palavras. O que você acha?
    Obrigada pela atenção.
    Madalena

    1. Olá Madalena.

      Obrigada pelo seu comentário.

      É realmente muito difícil sabermos, quando estamos no campo das questões mentais, até que ponto se trata de uma vivência real, acontecida mesmo e até que ponto se tratam de fantasias e desejos que não puderam ser elaborados.

      De qualquer maneira, acho que você tem razão quando fala da questão do abuso porque, de alguma forma, mesmo que não se tenha configurado um abuso sexual real nesta situação familiar (o filme não nos dá elementos suficientes para pensarmos melhor sobre isso, já que ficamos sabendo só da relação do personagem com a irmã, mas não temos acesso ao pai e nem à mãe…), podemos pensar que os desejos sexuais presentes na relação entre estes dois irmãos foram vivenciados por eles de forma traumática.

      Dito de outro modo: eles não tiveram condições de digerir e elaborar internamente a grande carga de desejos sexuais presentes na relação entre eles, embora não seja possível saber, pelos elementos que o filme dá, de onde poderia ter vindo esta dificuldade.

      Lembro a você que o conceito de trauma para a psicanálise quer dizer o seguinte: quando um desejo ou situação real vivenciada é excessiva para o ego e ele, por sua fragilidade, não tem como lidar com esta alta carga de emoções.

      A psicanálise compreende que a sexualidade humana por si mesma é um elemento traumático para a mente, pois muitas vezes a criança ainda não tem condições egóicas de lidar com a excitabilidade que deriva de seu próprio corpo e daquela derivada das relações precoces com seus genitores, sobretudo o materno, que é quem no início se ocupa mais com o cuidado da criança.

      Então, independente de ter havido ou não um abuso real por parte de um dos genitores (acho que não é possível afirmar isso), podemos pensar que os desejos sexuais ficaram impressos na mente dos personagens como um elemento fortemente traumático.

      Neste sentido, a fala da irmã de que eles não eram pessoas más, mas tiveram um início difícil pode ser compreendida nestas duas perspectivas. Nesta que você levanta e na perspectiva de que ela, ao dizer isso, tentava se evadir da culpa gerada pela percepção dos desejos sexuais dirigidos ao irmão, assim como os dele para ela.

      Ou seja, é como se ela estivesse dizendo a ele que sentir desejo por ela (e ela por ele) não fazia de ambos pessoas más. De qualquer forma, acho que ela tem toda razão em localizar a origem de suas dificuldades emocionais no início da vida, pois, conforme nos ensina a psicanálise grande parte das fixações sexuais é estabelecida na infância, ou seja, no início da vida.

      Espero ter contribuído para suas reflexões.

      Abraços.

  6. Muito obrigada pela sua resposta, Ana Laura.
    Mas transformando os personagens em pessoas reais, com uma história real (aliás, acho que este filme é baseado em uma história real), acho difícil crer que toda aquela angústia de ambos, que ele tentava visivelmente extirpar de si com a prática do sexo, sem o prazer emocional, só centrado na descarga física e ela também, usando o sexo para provocar e agredir, que tudo aquilo surgiu de graça, sem um sofrimento muito grande na infância, não acha? Fico imaginando que eles se uniam, tentando se proteger de um agressor poderoso (pai ou mãe, talvez) e no medo que os unia descobriram o desejo proibido… Achei este filme muitíssimo interessante, não só pelo que ele conta, mas mais ainda pelo que ele não conta!
    Um grande abraço e obrigada pela oportunidade!
    Madalena

  7. Olá!Gostei muito do seu texto sobre o filme e acredito ser um dos melhores que li. Então, creio ser importante fazer uma ressalva. Na parte do seu texto em que diz sobre o momento em que Brandon não consegue ter uma ereção, creio que seja mais pela pequena observação que ele faz acerca da roupa de baixo da companheira. Ele pergunta a ela se a calcinha é estilo retrô e ela responde afirmativamente. Se voltarmos um pouco o filme, vamos ver que a irmã do Brandon também faz um comentário dizendo que gosta de roupas nesse estilo.
    Nesse sentido, tenho certeza que a falta de vínculos afetivos não permite que esse personagem se sinta realizado nos relacionamentos sexuais, mas naquele caso específico, esse detalhe me chamara a atenção.Porque ele relaciona o sexo com aquela mulher como impróprio exatamente por relacioná-lo com a irmã.

    Espero que tenha sido útil o comentário.

    Grande abraço.

    1. Ana Carolina, seu comentário é muito pertinente sim. Como disse em minha interpretação da obra, Brandon tinha dificuldade para se envolver afetivamente com mulheres porque estas, em seu inconsciente, representavam sua própria irmã. Ou seja, a possibilidade de concretizar um vínculo incestuoso com a irmã era algo que o assustava muito e dificultava enormemente o contato afetivo dele com as mulheres. Obrigada pelo seu comentário. Forte abraço.

  8. Em questão de abuso, talvez ele tenha sido obrigado a ter sua iniciação sexual com a sua irmã e ele sabe que isso é errado, mas ao mesmo tempo ele tem todo aquele desejo desde a infância. O seu desejo sexual não tem limites e não representa uma “mente normal”

  9. Não entendi a cena final do filme… Ele no metro trocando olhares com aquela mulher “casada”/”loira”. Era alguma forma de mostra que o ciclo estava se reiniciando? Queria saber qual o papel daquela mulher no filme. Na cena inicial ela corre dele depois de dar bola pra ele e na cena final ela volta a dar bola pra ele, tanto que ela se aproxima dele.
    obs: da pra ter certeza que é a mesma mulher se você comparar as alianças.

    1. Matheus, não me recordo desta cena final a que você se refere. Teria que assistir novamente. Mas penso que sua hipótese pode fazer sentido, a de que o ciclo do personagem em seu vício sexual estava reiniciando, tendo-se em vista o grau de perturbação mental do mesmo no final do filme. Obrigada por compartilhar suas impressões no blog. Abraços.

  10. Sei que o post é antigo, não quero que responda, e não vou voltar aqui para ler. Sei que o email que coloquei está errado. Só quero ser breve e não sei porque estou falando isso. Assisti o filme e fiquei angustiado pois sou como o personagem principal. Procurei na internet alguma crítica, acreditando que estava vendo coisas de mais, mas não, encontrei esse maldito site.
    Vivi uma vida voltada para o trabalho, perdendo família e amigos, mas conseguindo uma “vida muito bem sucedida”. Tenho bastante dinheiro, apartamento grande, ótimo carro, e tudo que os outros sonham. Um físico atlético, cuidado por anos, e mesmo com tudo isso, falta algo. Não tenho uma parceira mas, saio com várias mulheres ao mesmo tempo, e ainda assim, me sinto solitário, vazio. Sexo é uma forma para escape, de fugir dessa realidade. Mesmo ja tendo percebido isso eu continuo a procurar por esse alívio. Quanto mais me sinto vazio, a mais atividades sexuais eu recorro. É um saco ter que ouvir as futilidades das mulheres antes de poder fode-las. As pessoas adoram ser ouvidas, falar sobre suas vidas e amam a pergunta: Esta tudo bem? tudo bem mesmo? Mas nunca param para perguntar. Mesmo que parassem, não pretendo gastar meu tempo e paciência tentando explicar algo que nem eu mesmo consigo para mim mesmo. Ultimamente tenho apelado para as prostitutas, não preciso me esforçar muito. Eu odeio o que faço. Odeio o fato das mulheres me usarem. Odeio o fato de eu ter que usa-las. Me sinto vazio, sem caminho ou destino.

  11. Minha visão é mais simplista,talvez. Vejo dois irmãos atormentados pelo desejo sexual entre ambos, buscando refúgio e penitência em relações puramente físicas. Acho que o grande drama é o incesto como ameaça moral desequilibrando a vida agetiva de ambos.

  12. Voltou para ler?

    Lamento pelo seu relato, Marcelo. Estou escrevendo porque me tocou sua última frase. Peço licença para fazer um julgamento a partir do que falou. Não me parece que você tem uma estrutura de trauma como a do personagem do filme. Nós sempre sofremos por traumas na vida em diferentes quantidades e proporções. E cada um, evidentemente, possui o seu modo de lidar. Mas o trauma do personagem, que parece ser similar ao da irmã não é generalizado, felizmente, na nossa sociedade. Não saberia dizer o que o personagem sofreu. Seu pai o abusava sexualmente? Houve morte? Houve tragédia? Não é todo dia que isso ocorre. E é por esse motivo que julgo que sua estrutura de trauma não é a mesma, embora sem dúvida você pode ter se identificado com o modo de vida e atitudes do cara. Se é a mesma, peço perdão e novamente lamento.

    De qualquer forma, se eu fosse você buscaria uma forma de conhecer melhor a si mesmo, compreender quais são os gatilhos que te levam a procurar sexo pelo sexo e a negar o afeto ou o envolvimento. Ou, constatar em que momento você se deu conta do vazio que relata sentir e o que havia antes e o que passou a haver depois.

    Você diz que perdeu amigos e família porque sua vida foi vivida para o trabalho, e você se arrepende? Ou não? Isso é irreversível? Você quer que seja?

    Nem sempre é possível se conhecer melhor sem que alguém conduza você ao autoconhecimento, como um terapeuta por exemplo. E se você tem preconceito com terapia/psicólogos, pare e pense sobre o fato de que seu comentário foi um desabafo e desabafar alivia também.

    Desejo o melhor,

    abraços

  13. A melhor crítica do filme disparada!

    Assisti o filme nesse final de semana, adoro filmes como esse de trama psicológica, e vim procurar algo que aprofundasse mais o já profundo filme.

    Excelente o texto e análises. Escreva sempre sobre filmes do tipo, o blog é mto diferenciado.

    Parabéns pelo trabalho!

  14. Vi o filme hoje e acredito que tanto Brendon quanto a irmã sofrem por esse desejo reprimido por ser incestuoso. As marcas no pulso dela mostram que a vida dela tb não foi fácil, o telefonema que ela dá assim que chega no apartamento do irmão e se mostra muito dependente do que falava com ela ao telefone. Para mim, Brendon recorre a pornografia, prostitutas e não consegue fazer sexo com uma parceira que quer um vínculo afetivo, justamente, por não saber lidar com seus desejos pela irmã. Os dois sofrem por esse tipo de relação que não se pode concretar por ser errado.

    1. Felipe, fico feliz que minhas reflexões tenham ajudado você a encontrar alguma ressonância com suas próprias vivências. Este é, para mim, um dos grandes objetivos da boa arte: nos ajudar a pensar sobre nossas próprias experiências. Abraços,

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