Diferenças entre psicoterapia e Psicanálise

images (3)Explicar de um modo simples e claro quais as diferenças fundamentais entre uma psicoterapia (ou terapia, como se costuma dizer) e uma psicanálise não uma tarefa simples. Mas tal diferenciação é imprescindível pela confusão que costuma gerar entre os leigos e mesmo entre os psicólogos.

Comecemos por definir o que é psicoterapia.

O que é psicoterapia?

Termo “genérico” que corresponde a qualquer tratamento realizado com métodos e propósitos psicológicos, independente da abordagem teórica utilizada. Em linhas gerais, todas as psicoterapias utilizam como ferramenta principal de trabalho a palavra. Também em linhas gerais, nas psicoterapias estará presente algo que chamamos de sugestão.

O que é a sugestão?

A sugestão é aquilo que no senso-comum chama-se aconselhamento. Este aconselhamento vindo do terapeuta tem um peso muito grande para o paciente, pois o profissional está investido por ele de um papel de poder.

Isso ocorre porque todos os seres humanos carregam em si um desejo infantil de serem protegidos, amados e guiados por uma figura de referência (que na infância são os pais).  Então, na fantasia infantil do paciente o terapeuta (“O doutor”) sabe tudo e será capaz de livrá-lo daquilo que ele sente.

Em linhas gerais, portanto, em uma psicoterapia o terapeuta aconselha e orienta o paciente sobre como se portar diante da vida. A princípio, não há nada de mal neste tipo de trabalho, inclusive porque há pacientes que não têm condições de desenvolver um trabalho mais profundo sobre si mesmos.

O único problema é que, quando esta necessidade de amparo e proteção (sempre infantil) não é manejada adequadamente pelo terapeuta, ela pode endossar no paciente o seu anseio por permanecer em uma posição infantil fazendo com que ele tenha dificuldade de pensar por si mesmo.

Da parte do terapeuta, isso pode estimular o seu próprio narcisismo fazendo com que ele se sinta imprescindível na vida do seu paciente.

Vale ressaltar que este tipo de relação sugestiva está muito presente no contato entre médicos e seus pacientes e também em instituições. Você já reparou como a maioria das pessoas tratam com  idealização e temor um “doutor” ou um juiz?

Resumindo, a psicoterapia é:

  1. Um modo genérico de chamar qualquer tipo de tratamento com propósitos psicológicos
  2. Em linhas gerais, utilizam como instrumento de trabalho a palavra
  3. Nela está presente a sugestão ou aconselhamento
  4. Normalmente seus objetivos são mais pontuais. Por exemplo, pode-se visar ajudar o paciente a se organizar financeiramente passando-lhe exercícios reflexivos para casa.
  5. No longo prazo a psicoterapia pode endossar o desejo do paciente por permanecer em uma posição infantil

Agora façamos uma diferenciação com a psicanálise.

O que é Psicanálise?

A Psicanálise é um método não sugestivo, embora ela tenha nascido da prática sugestiva. Seus propósitos são mais filosóficos do que psicológicos, já que visam por meio do conhecimento dos processos inconscientes da mente, uma responsabilização cada vez maior do paciente por seus próprios atos  e escolhas.

Ou seja, a psicanálise busca questionar o anseio do paciente por colocar o terapeuta no lugar do mestre ou do guru e também o desejo do paciente por se colocar no lugar da criança. Como eu disse acima, Freud descobriu, tratando seus pacientes, que há em todos os seres humanos  uma necessidade infantil de ser protegido e amado por uma figura de referência. Inclusive, toda a base da religião se ancora aí: na necessidade humana de ser protegido por um Deus onipresente e onisciente. A esta necessidade humana Freud nomeou transferência.

Disso surge uma das principais diferenças entre a psicanálise e as psicoterapias. Na psicanálise, a transferência será intensamente analisada visando, no longo prazo, a resolução deste desejo infantil. Na prática isso significa que ao final de uma análise o paciente será mais capaz de suportar a sua condição de desamparo fundante sem ter que entregar nas mãos de outros seres humanos a sua própria vida e as suas resoluções em troca de proteção, amparo e amor.

Resumindo, a psicanálise é:

  1. Um método não sugestivo de conhecimento dos processos inconscientes da mente
  2. Seus propósitos são mais filosóficos do que psicológicos porque não se coadunam aos ideias ilusórios de felicidade plena, ausência de conflitos e adaptabilidade do indivíduo
  3. Utiliza como instrumento de trabalho a palavra (interpretação) e o manejo da transferência, bem como o divã
  4. No longo prazo a psicanálise antevê a possibilidade de um sujeito cada vez mais capaz de assumir sua posição adulta, responsabilizando-se por seu próprio desamparo fundante e por seus atos no mundo

Ficou em dúvida sobre o que procurar? Aqui vão algumas dicas:

  1. O que espera do tratamento? A psicanálise é uma terapia mais profunda e visa uma transformação global da personalidade do paciente. A psicoterapia é menos profunda, seus objetivos são mais focais e visam, por exemplo, uma maior adaptação do indivíduo ao seu meio ou a resolução de algum conflito específico. Importante destacar que não se trata de um método ser melhor que o outro. Eles são diferentes! Têm objetivos e propósitos diferentes. Há milhares de pacientes que, por terem mais pressa, por exemplo, podem se beneficiar enormemente de uma psicoterapia. Ou ainda, há pacientes que podem utilizar a psicoterapia como um passo para se prepararem futuramente para uma psicanálise.
  2. Tem pressa? A psicanálise é uma terapia mais longa. Para ter resultados consistentes são necessários alguns anos. Psicoterapias são mais rápidas, pois como eu disse têm objetivos e propósitos mais focais e específicos.
  3. O quanto está disposto a investir em termos de tempo e dinheiro? A psicanálise é um método mais caro e exige maior dedicação de tempo.
  4. Que tipo de pessoa você é? A psicanálise se adapta bem a pacientes curiosos sobre si mesmos, mas não se adapta bem a pacientes que querem respostas imediatas, nem cura instantânea.
  5. O que espera do seu terapeuta? O psicanalista convidará o paciente a se responsabilizar por si mesmo, por seus horários, por seu crescimento, por suas decisões. Psicoterapeutas, em linhas gerais, tendem a serem complacentes, por exemplo, não cobrando faltas.

Investigue atentamente o que está em busca, converse com profissionais de um e outro método de trabalho e faça sua escolha!

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9 comentários em “Diferenças entre psicoterapia e Psicanálise”

  1. Oi, Ana. Magnífico o texto. Bem explicitado! Pois é, nós profissionais temos certas dificuldades – esperadas – em explicar pontualmente as diferenças de Psicanálise e Psicoterapia em diversos momentos. No contexto de sala de aula (principalmente quando se trata de cursos fora da Psicologia) isso ocorre com frequência e, de certa forma, precisamos deixar bem claro ao aluno, num linguajar simples e acessível. Beijos.

    1. É verdade, Marcos. Mas, como eu disse no texto, acho que tal dificuldade não é pessoal, mas fruto de reais interpenetrações entre os dois fazeres clínicos. De qualquer forma, penso que o que vai definir o quanto o processo terapêutico é analítico ou não é a capacidade do terapeuta de ter acesso aos seus próprios conteúdos inconscientes, conseguido através de sua análise pessoal. Sem isso, o terapeuta terá dificuldade de realizar o mesmo trabalho com o seu paciente. Abraços.

  2. Boa Noite! Gostei da explicação e gostaria de ter mais livros comentando sobre este assunto, já que vou fazer uma monografia sobre psicoterapia psicanalistica. Ah! Rissos, de preferência em portuques.

    1. Lea, obrigada pelo seu comentário! Há alguns livros em português muito bons que falam sobre psicoterapia psicanalítica. Dois que eu gosto muito e costumo usar em sala de aula são: 1) Fundamentos psicanalíticos: Teoria, técnica, clínica – uma abordagem didática, do David Zimerman. 2) Fundamentos da técnica psicanalítica – Horácio Etchegoyen. Espero tê-la ajudado. Abraços

  3. Muito boa a explicação no meu caso sou psicanalista psicopedagogo e acupunturista uso termo terapeuta.

  4. Naturalmente, as comparações entre psicologia e psicanálise sempre são tendenciosas: psicólogos apontam que as suas são científicas e as psicanalíticas não, enquanto que, os psicanalistas apontam que a sua é mais profunda, completa, e superior a psicologia. O interessante é que a presença de tais argumentos no meio acadêmico impede o aluno de ver com seus próprios olhos uma ou outra teoria, dependendo de quem efetivamente conseguiu aliená-lo: o psicólogo ou o psicanalista. De uma coisa sei: nenhum profissional psi se especializa em tudo, mas todos são capazes de apresentarem os melhores argumentos a favor de suas teorias e práticas – que é natural – , mas ainda por cima, são capazes de apontar todas as falhas da concorrência.

    1. José, acredito que houve um mal entendido de sua parte a respeito do que eu disse. Parece-me, até onde pude compreender, que você próprio associa o profundo a algo melhor e o não profundo a algo pior. Ou seja, faz um julgamento moral a respeito do que eu disse.

      De minha parte, frisei no texto que são trabalhos diferentes, o que não significa absolutamente que um seja melhor que o outro. Lamento que esteja tão contaminado em sua perspectiva por uma visão valorativa dos diferentes vértices desta discussão. Realmente o profissional não pode se especializar em tudo, mas isso não é um demérito para ele. Significa simplesmente que somos humanos e nos desenvolvemos até onde nos é possível ir.

  5. Eu discordo de partes desse texto. Trabalho com ACP a qual é uma abordagem não diretiva. Não utilizamos sugestões nem aconselhamentos. O texto deixou as abordagens existentes de forma genérica. O que não é verdade.

    1. Simone, boa tarde. Você tem total liberdade de discordar das ideias contidas no texto. Convido-a, inclusive, a expor aos leitores sua perspectiva sobre o assunto. Será muito interessante ter visões discordantes sobre o tema aqui no blog. Grande abraço!

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