Mitos sobre o atendimento psicológico

images (3)É bastante compreensível que as pessoas não tenham um conhecimento realista do que se passa dentro de uma sala de psicanálise, algo que é facilmente explicado pela ausência de experiências reais com a situação.

Também é compreensível que as pessoas julguem a situação “real” a partir da experiência de parentes ou colegas que fizeram ou fazem terapia, o que é complicado uma vez que a experiência do outro está sempre perpassada por suas próprias emoções.

Vamos dar um exemplo:

Suponhamos, por exemplo, que a terapeuta da sua vizinha mostrou a ela algo de si mesma que a tenha deixado desconfortável e com raiva. Por um mecanismo muito usual chamado projeção, a vizinha passará a achar a sua terapeuta incompetente e incapaz de ajudá, algo que se estenderá a todos os terapeutas do planeta e (o que não é incomum) e à terapia como um todo.

Por outro lado, pode ser que a vizinha, naquele momento, esteja idealizando (endeusando) a sua terapeuta. Nesse caso, não só a vizinha estará “amando” a sua terapeuta, falando bem dela para todo mundo e recomendando a terapia como a melhor coisa que existe.

Por que isso acontece?

Eu contei estas duas estórias  para explicar algo muito simples: os julgamentos e percepções do ser humano sobre um fato não são nada confiáveis; ao contrário, são tendenciosos e mudam de acordo com os sentimentos de amor ou de ódio predominantes no momento.

O melhor jeito de conhecer como funciona uma psicanálise é fazendo:

Por isso, o melhor jeito de conhecer como é uma terapia é fazendo e não ouvindo a experiência dos outros. Este é o melhor remédio para que os mitos sejam desmistificados.

Os mitos:

O que são mitos? Mitos são estórias que o ser humano inventa desde sempre para dar um sentido ou explicação para algo que não conhece.

Por exemplo, o homem antigo não sabia explicar porque o sol aparecia toda a manhã e desaparecia toda a noite. Então, criou o mito de que havia um deus que carregava o sol em sua carruagem, fazendo-o aparecer e desaparecer a cada dia. Note, portanto, que o mito  em sua definição mais coerente é uma explicação fantasiosa e irreal sobre um fato que transcende ou extrapola nossa capacidade de compreensão racional (pelo menos naquele momento). Voltando à estória do sol, depois da ciência ter descoberto que o sol “aparece” e “desaparece” porque a Terra gira ao redor do sol não fazia mais o menor sentido continuar acreditando no mito do deus-sol.

Certo?

 Essa questão dos mitos é interessante porque se pensarmos em termos evolutivos, o homem primitivo (que acreditava no deus-sol) equivaleria, em termos ontogenéticos, à criança que acredita em monstros, não porque seja tola, mas porque ainda não está psiquicamente madura para compreender que o monstro é uma criação fantasiosa sua para explicar e lidar com o seu ódio.

O pensamento animista do homem:

Nessa perspectiva, quando um paciente vem à análise pela primeira vez, ele vem como o homem primitivo ou como a criança: aterrorizado por uma série de falsas crenças, amedrontado por monstros e desejoso por encontrar um deus bom (ou um analista-deus) capaz de livrá-lo daquilo que ele sente mas não compreende. Não faz isso porque seja tolo, mas porque ainda não foi capaz de desenvolver condições internas para encontrar um sentido lógico àquilo que ele sente e vive.

Tal como a criança ou como o homem primitivo, sentira medo do analista quando estiver tomado pelo ódio e esperança de se encontrar com um analista bondoso e compreensivo quando estiver tomado por sentimentos amorosos. Na psicanálise, chamamos este pensamento de animista. 

Por isso grande parte de um trabalho de análise é ajudar o paciente a encontrar um sentido humano e não místico para aquilo que ele sente e vive internamente.

Seriado Sessão de terapia:

Para finalizar, lembro-me que em 2012 começou a ser exibido no Brasil um seriado chamado “Sessão de terapia” que fez muito sucesso na época. Na ocasião pensei que seria algo interessante para aproximar um pouco mais o público desta realidade. Também pensei na ocasião que o grande sucesso do seriado era explicado pela imensa curiosidade que as pessoas têm sobre o que se passa em uma sala de análise.

Mas, para meu desagrado o seriado acabou por retratar algo que está muito, mais muito distante do que acontece realmente em uma sala de terapia (pelo menos na minha; não posso falar pelos outros).

Primeiro porque o terapeuta do seriado estava em um momento ruim de sua vida pessoal e não conseguindo separar seus próprios dramas dos dramas de seus pacientes. Isso não significa que terapeutas não passem por maus momentos, mas, diferentemente do que acontecia no seriado, um bom terapeuta precisa saber realizar uma divisão entre o que está vivendo em sua vida pessoal e o seu trabalho com os pacientes. E isso ele não estava conseguindo fazer.

Segundo, ele não era psicanalista.

Terceiro, porque a sessão com cada paciente acaba sendo mais um campo de guerra do que uma relação terapêutica propriamente dita. Na prática cotidiana, não é assim que acontece. Obviamente que se vive momentos difíceis e turbulentos com um paciente, mas esta não é a regra.

Em linhas gerais, a relação terapêutica é uma relação profundamente estética pautada na busca pela verdade e na compaixão.

Ficou curioso para saber o que se passa em uma sala de psicanálise?

Não perca o precioso tempo de vida que passa sempre tão rápido (embora o homem, como a criança, imagine ter todo o tempo do mundo). Viva a experiência de conversar com um psicanalista em sua cidade.

Agora, se você estiver na região de Ribeirão Preto, estou à disposição para recebê-lo em minha clínica de psicologia em Ribeirão Preto. Conheça minha formação e agende uma entrevista. Conheça mais sobre a abordagem teórica da psicanálise. 

2 comentários em “Mitos sobre o atendimento psicológico”

  1. parabéns pelo texto, mesmo que já tenhamos ouvido algo a respeito é muito enriquecedor esta postagem, de novo parabéns.

    1. Obrigada, Elida. Sinta-se à vontade para colocar aqui seus comentários a respeito dos textos. Abraços

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