Reflexões sobre a escolha pelo curso de psicologia.

psicologoCostumo receber muitos e-mails de estudantes de psicologia e de pessoas que têm interesse na área me perguntando como é atuar como psicólogo. Desta forma, achei que seria relevante produzir um texto sobre o tema e para isso vou me basear em algumas percepções que pude ir acumulando durante os meus anos de experiência como docente em cursos de psicologia.

Toda vez que assumo uma turma nova, tenho o costume de perguntar a cada um dos alunos o que motivou a sua escolha. Apesar de cada um ter uma motivação particular, chama minha atenção o número grande de alunos que respondem que buscaram o curso para ajudar um membro “doente” da família. Outros, também em número considerável, respondem que buscaram o curso porque eles próprios já estiveram ou estão deprimidos e apresentam algum tipo de sofrimento emocional, para os quais desejam obter respostas através da Psicologia. Ainda, uma pequena parcela responde que é para compreender o ser humano e os mistérios da mente.

A escolha profissional para a Psicanálise

Do ponto de vista da Psicanálise, sabemos que estas respostas se configuram como falas, manifestações de desejos que precisam ser lidas a partir da ótica do inconsciente. Desta maneira, estes alunos buscam, através da ciência, respostas racionais para questões emocionais e que, portanto não podem ser respondidas a partir daí.

Esta constatação – a de que muitos alunos têm buscado no conhecimento racional respostas para questões que são de ordem  inconsciente – leva a algumas consequências que vou procurar elencar agora, algumas de ordem pessoal, ou seja, para a vida e saúde mental do aluno, e outras de ordem profissional, podendo acarretar num sentimento de falta de identificação com a profissão do psicólogo, algo que tenderá a eclodir nos últimos anos de formação.

portas2Vamos à primeira. Sabemos pela Psicanálise que toda escolha tem significados inconscientes. Sabemos, portanto, que a escolha pela psicologia, assim como a escolha de qualquer outra profissão, tem ressonância direta com desejos e fantasias do inconsciente que precisam ser analisadas caso a caso. Sabemos também que o trabalho (no sentido de realizar um ofício) pode ser compreendido em termos psicanalíticos como uma forma de sublimação, ou, dito em termos kleinianos, de reparação aos nossos objetos internos danificados, algo que penso ser verdadeiro no caso de muitas profissões que visam oferecer algum auxílio ao outro, dentre elas a profissão de psicólogo. Lembro-me de uma conferência de Psicanálise em que a palestrante alertava para o fato de que, no inconsciente de todo psicanalista, havia uma culpa inconsciente que precisava ser reparada através do fazer psicanalítico. Outra motivação muito comum, esta encontrada sobretudo na profissão médica, liga-se a um desejo inconsciente de vencer a morte, desejo que se não puder ser elaborado, pode trazer grandes doses de angústia para o profissional que inevitavelmente “perderá” pacientes em sua carreira. O problema é que estas significações inconscientes só podem ser conhecidas em uma análise e não nos bancos universitários!

Com isso, chegamos à segunda consequência, de ordem profissional. Quando um estudante de psicologia tem como motivação fundante para sua escolha questões inconscientes assentadas em problemáticas pessoais, pode haver com isso uma confusão no que se refere ao  papel de um profissional da Psicologia.

Lembro-me de inúmeras situações de supervisão de estágio em que alunos, carentes de um espaço psicoterapêutico para poderem sonhar suas próprias experiências e dores, tinham muita dificuldade para enxergar o paciente como alguém com questões, necessidades e dramas próprios. Ou seja, a angústia destes alunos, a falta da psicoterapia, somada à alta angústia gerada pela proximidade da formatura, impedia-os de conseguirem delimitar o que eram suas próprias angústias e o que eram angústias do paciente.

Com isso, em muitos momentos, ou o paciente interrompia o processo levando o estagiário a pensar no contexto da supervisão sobre a sua participação nesta interrupção, ou continuava, embora sem a perspectiva de se criar verdadeiramente uma relação terapêutica, baseada numa relação assimétrica de ajuda em que um (o terapeuta-estagiário) está  um pouco mais amadurecido em termos emocionais para oferecer ajuda ao outro (o paciente).

Características de personalidade importantes para ser um psicólogo

Acho importante clarificarmos que quando a escolha pela psicologia baseia-se no anseio de se “resolver” questões emocionais de ordem pessoal, uma espécie de crise profissional provavelmente será vivida pelo estudante ou pelo profissional em seus primeiros anos de atuação, pois, para se atuar com relativo sucesso nesta área, espera-se que o profissional tenha podido avançar um pouco mais que o seu paciente no conhecimento de sua própria mente.  Diante disso, tentarei elencar algumas das características humanas ou de personalidade que eu considero fundamentais para se exercer o ofício de maneira satisfatória e prazerosa para o futuro profissional.

Falarei baseando-me no fazer clínico / psicanalítico que é o único que eu conheço mais a fundo, embora eu considere que a atuação do psicólogo, independente do contexto, deva se guiar por tais habilidades que se congregam, todas elas, em um desejo genuíno de auxiliar o outro a suportar melhor suas dores mentais, amparando-se em uma abordagem científica X ou Y.

Assim, acredito que dentre as características importantes para se exercer este bonito, mas árduo ofício, uma pessoa deve ter:

1) Profundo respeito pela condição humana, que marca a todos nós de igual modo.  Além de ser profissional, ele deve ser capaz de ser um humano, no sentido mais amplo do termo, com capacidade para fazer companhia a dores humanas que às vezes beiram o indescritível. Para isso, é importante poder manter uma atitude de não arrogância e superioridade com relação ao semelhante, embora podendo manter uma relação assimétrica e respeitosa com relação aos limites da relação terapêutica.  Para isso, ele precisa gostar de ser humano e gostar de outros humanos.

2) Amor à verdade. É importante que esta pessoa seja íntegra, algo que não tem a ver com moralismo. Assim, ela deve ser uma guardiã atenta, sem dogmatismo, mas com acolhimento das verdades humanas, das quais todos nós, em algum momento, tendemos a fugir. Algumas destas verdades essenciais são a de que somos seres absolutamente dependentes e frágeis, a de que somos mortais, porém potentes para fazermos algo pelo bem comum enquanto estamos vivos, a de que somos essencialmente diferentes, mas semelhantes, a de que somos essencialmente sós, mas sociais, a de que não somos nem só bons, nem só maus.

3) Gosto pela palavra. O psicólogo deve ter prazer em utilizar palavras, pois, em muitos momentos a nossa função será colocar em narrativas possíveis o que às vezes parece escapar de qualquer compreensão verbal e humana. Associo o psicólogo / psicanalista a um pintor que pinta um quadro do que se passa numa relação humana específica utilizando como tintas as palavras.

4) Condição mental para suportar altas cargas emocionais, mantendo a capacidade para sonhar. O psicólogo será submetido, em seu trabalho quotidiano, a altas doses de emoções intensas (amor, ódio, inveja, rivalidade, ciúme, persecutoriedade, além das emoções que ainda não foram nomeadas pela dupla) e é importante que ele tenha um continente preparado para acolhê-las sem perder a capacidade para pensar. O lugar privilegiado de construção deste continente é a análise. Sem isso, ele não só não conseguirá auxiliar seu paciente, como também poderá criar confusões geradas pelas suas próprias emoções ainda não desenvolvidas.

A idealização do trabalho clínico

Observo entre os alunos uma espécie de idealização do trabalho do psicólogo, sobretudo do clínico, idealização talvez criada a partir da imagem clichê de um terapeuta tranquilamente sentado em seu consultório ouvindo pessoas em sua sala ricamente decorada, com o seu ar condicionado. Esta é uma visão muito parcial do trabalho. Mesmo que tenhamos o privilégio  de passarmos o dia em uma sala bonita, com ar condicionado ouvindo os dramas e histórias das pessoas que toparam confiar em nós, a realidade do trabalho não é tão colorida assim.

psicanalistaApesar de ser um trabalho extremamente enriquecedor do ponto de vista humano, pois, pelo menos isso é real para mim, a cada nova sessão me sinto diferente, modificada em minha forma de compreender o mundo a partir daquela interação, o trabalho clínico é extremamente solitário, silencioso e difícil. Um psicólogo / terapeuta, portanto, deve gostar imensamente da sua companhia e saber ouvir a voz do silêncio, sem se angustiar com isso. Deve gostar de ler poesia e ser curioso sobre os seus próprios pensamentos. Associo a função de um terapeuta interessado em descobrir as verdades emocionais penosas do paciente à figura de Virgílio que acompanha o poeta Dante em sua dolorosa descida ao inferno e purgatório.

Enfim, como todo trabalho criativo há belezas e dramas, assim como tudo na vida.

Responsabilidade dos cursos univeristários que formam psicólogos

Acredito que todo docente de psicologia deva estar preparado para discutir estas questões fundamentais com os seus alunos, questões estas que serão o alicerce de sua formação. Acho muito positivo que os cursos de psicologia estejam repletos de alunos, pois, isso é sinal de que muita gente tem se interessado pelas questões mentais. Entretanto, também acho importante clarificarmos e fazermos discriminações junto aos alunos entre o que é ser psicólogo e o que é buscar a ciência psicológica para entender a si próprio, pois, penso que são coisas muito distintas, conforme tentei mostrar aqui.

Caso contrário, corremos o risco de banalizarmos o conhecimento psicológico transformando-o em uma espécie de jargão mágico que tudo pode explicar. Com isso, pervertemos o uso do conhecimento, que passa a ser usado como um atalho, utilizado para se fazer o trabalho necessário com o mínimo de esforço, já que se deitar no divã ou fazer uma boa psicoterapia costuma ser mais custoso, pelo menos emocionalmente, do que frequentar os bancos escolares. Em tempos de solução mágica e rápida para quase tudo, a busca por um curso ao invés do auxílio psicológico pode estar a serviço de desejos onipotentes e mágicos de cura rápida, evitando-se passar pelo sofrimento necessário a qualquer transformação emocional verdadeira.

Para uma discussão mais aprofundada sobre as características de personalidade necessárias a um terapeuta, sugiro o bonito livro de Contardo Calligaris “Cartas a um jovem terapeuta”. cartas a um jovem terapeuta

 

28 comentários em “Reflexões sobre a escolha pelo curso de psicologia.”

  1. Acabei de achar esse texto em meio a uma enorme confusão mental diante do curso a seguir. Muito obrigada!!!! Sem palavras.

  2. Muitissimo obrigado pelo texto.
    Estou pra começar a cursar psicologia, nao fazia ideia do que pensar ou esperar e depois dessa leitura, me sinto muito inspirado e mais determinado a seguir esse caminho.
    Novamente, muito obrigado pelo texto e por todos os outros é claro. Me tornei grande admirador de todo o conteudo do site. Continue com o grande trabalho, muito inspirador mesmo.

  3. Adorei este texto a anos quero cursar Psicologia, sou formada em outra área e na faculdade tive como matéria um semestre de introdução a psicologia, onde fiquei apaixonada e agora depois deste texto também tenho certeza que este é o caminho.

    Obrigada;

    1. Olá Erika, fico feliz que me meu texto tenha ajudado a clarear o seu caminho. Grande abraço. Ana Laura

  4. Olaaaa, eu estava no 1ano de medicina, e decidi mudar para o curso de psicologia, depois de ter lido este texto, meu interesse aumentou, foi uma inspiração para mim, muito grata.

    1. Edna, fico feliz que o meu texto tenha ajudado você a se decidir sobre o seu ofício. A escolha profissional, junto da escolha de uma parceria amorosa, é de extrema importância na vida de uma pessoa. Freud dizia que nós sabemos que um paciente está pronto para ir embora da análise quando ele readquiriu ou conquistou a capacidade de sentir prazer no amor e no trabalho. Levando-se em conta que nós passamos grande parte da vida trabalhando, acho de suma importância escolhermos algo que nos dê prazer. Desejo-lhe boa sorte em seu novo curso. Abraços

  5. Finalizo a leitura com o coração grato por tamanho conhecimento compartilhado! Sou formada em Economia por falta de opção na época mas nunca me encontrei como profissional.Estou na ânsia por iniciar o curso de Psicologia ainda esse ano e através desse texto pude esclarecer algumas dúvidas e agora sinto que dei mais um passo para a decisão pelo curso. Obrigada!

    1. Que bom, Denia. Fico feliz que o meu texto tenha ajudado você a refletir sobre sua escolha profissional. Abraços.

  6. Parabéns, adorei o texto. Realmente é o curso que irei fazer na universidade e também torna-lo minha carreira.

  7. Ótimo texto!! Cara, eu tenho 19 anos e eu quero fazer psicologia, porém, eu não faço a mínima ideia de como começar essa trajetória. Pode me ajudar como? Agradeço!

    1. Ellen, obrigada pela sua pergunta. Ela é muito instrutiva e pertinente. Para eu responder de um modo mais claro a você, vou me permitir fazer uma pequena alteração na sua questão. O psicólogo e o psicanalista fazem a mesma coisa? Este seria um outro modo de você fazer a questão e a resposta para isso é não. O psicólogo e o psicanalista possuem visões de homem muito distintas entre si. O psicólogo parte da premissa de que o homem tem total consciência dos motivos de suas ações, e sua herança científica deriva da visão cartesiana de homem que diz “penso, então logo existo”. Ele também considera que o ser humano é um ser total, unitário, regido por uma força básica que visa se desenvolver, melhorar e aprender sempre. Já a psicanálise compartilha de uma visão mais próxima da do homem trágico grego, que concebia que o ser humano é ser dividido por conflitos internos e desejos opostos, de crescer e não crescer, de viver e de morrer, de ser feliz e de se auto-destruir. O psicanalista também desconfia de que o homem conhece as motivações que regem suas ações no mundo, e considera que a energia que move o homem no mundo deriva de seu mundo inconsciente, do qual ele nada sabe. Nesse sentido, a máxima cartesiana sofre uma brutal alteração. Para o psicanalista, o homem existe onde não pensa, é onde age sem saber porque o faz. Estas formas paradigmáticas tão díspares de enxergar o homem fazem com que suas práticas clínicas sejam radicalmente diferentes. Enquanto o psicólogo trabalhará buscando motivar o seu paciente a melhorar e se curar de seus sintomas, por meio de exercícios, mudanças comportamentais, etc, o psicanalista buscará compreender quais os desejos inconscientes, quase sempre de cunho sexual, mas também agressivo, que encontram satisfação com a persistência dos sintomas. Em última instância, o analista tem como um de seus propósitos de trabalho a ideia de, com o tempo, vir a tornar o homem senhor de seus próprios impulsos, e não alguém dominado cega e servilmente por eles. Espero ter ajudado. Abraços.

  8. Obrigado pelo texto, este será o meu primeiro ano em psicologia na faculdade, prometo dar o meu melhor no decorrer da minha formação superior, para ser um ótimo profissional psicólogo clínico….

  9. Muito obrigado pelo texto,,isso só m deu mais a certeza do q realmente eu quero,,e dizer q as pessoas estao erradas quando dizem q esse curso naõ tem benecio

  10. Depois desse texto estou muito inspirada, e disposta a terminar o curso.
    A partir dele, desobri o verdadeiro sentido e estou cada dia mais apaixonada pela psicologia.

  11. Parabéns pelo texto Ana, muito esclarecedor!
    Tenho uma dúvida…sou formado em administração de empresas, se no caso eu quisesse partir para essa área de psicanálise clínica, eu teria que fazer a faculdade de psicologia ou existe alguma pós graduação que me qualificaria para tal?

    1. Henrique, tudo bem. Vamos ver se eu consigo esclarecer sua dúvida. Primeiro, não existe psicanálise clínica. Toda psicanálise é clínica porque os estatutos teóricos formadores da psicanálise só podem ser compreendidos e enxergados na clínica. Sobre a sua outra questão, sim, é interessante que você tenha se formado como psicólogo ou como psiquiatra para vir a trabalhar como psicanalista. A formação de um psicanalista é dada pelos institutos filiados à IPA (Internacional Psychoanalytical Association) e na inscrição é solicitado que o interessado tenha um destes diplomas. São abertas algumas exceções para outras formações, desde que o interessado comprove que tenha um percurso na psicanálise, o que significa ele já ter feito uns bons anos de análise pessoal. Mas, de qualquer maneira sugiro que você pense seriamente qual sua motivação para atuar como psicanalista. Recebo muitas pessoas que confundem o seu desejo de trabalhar nesta área (que aliás demora muito para nos remunerar bem, e precisa de uma grande vocação do sujeito para que ele tenha prazer nisso e, além disso, encontra grande resistência por parte das pessoas do nosso tempo porque é raro encontrar um ser humano que queira conhecer a si mesmo) com o desejo de tratar alguma questão sua. Quando o caso é este, sempre sugiro à pessoa que ela comece se submetendo a uma análise com um psicanalista. Com isso, você pode clarear melhor qual sua motivação, e também ver como trabalha um psicanalista, e com isso imaginar-se fazendo isso ou não. Espero ter te ajudado. Abraços.

  12. bom dia, quero parabelizar o docente pelo texto, quero fazer curso de psicologia Clinica, semp tive uma paixao pelo curso, mas nao sabia porque, mas diante desse texto, abriu me a visao, obrigado.

    1. Olá, Agostinho. Fico feliz que minhas reflexões tenham ajudado você de alguma forma. Sinta-se à vontade para comentar quando quiser. Forte abraço.

  13. Ainda nem terminei os estudos e ja sei qual rumo quero seguir. Fico a cada dia mais apaixonada e curiosa sobre a psicologia. Suas reflexoes me fizeram ainda mais decidida sobre seguir na psicologia, muito obrigada e realmente meus parabens!

  14. Iniciarei o curso de Psicologia no segundo semestre 2018, e até então venho pesquisando a respeito do curso e das “Ns” áreas de atuação e especialização, e esta matéria me fez apaixonar mais pela psicologia em um todo. Claro que no decorrer do curso vou me identificar qual melhor área atuar.
    Obrigada

  15. ano passado cursei Fisioterapia, mas não mi indentifiquei vou migrar para psicologia, é uma área que sempre admirei e quero mi tornar profissional..Se Deus Quizer.

  16. Que texto inspirador, meus parabéns! Muito obrigada pela troca de conhecimento e muito sucesso à você!

  17. CARA, QUE TEXTO SENSACIONAL. Ele me confortou(nao sei tenho certeza se isso é bom, mas acredito que esteja no caminho certo para alguma coisa). É um texto lindo que me faz cada vez mais querer ser psicanalista / psicologo. Enfim, foi ótimo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.