Em “Os trabalhadores do mar”, de Vitor Hugo, diz o narrador sobre o desespero de Gilliatt, diante do risco de sua própria morte:
O homem diante da noite reconhece-se incompleto. O céu negro é o homem cego. Com a noite o homem abate-se, ajoelha-se, arrasta-se para um buraco ou procura asas. Quase sempre quer fugir a essa presença informe do desconhecido. Pergunta: O que é; treme, curva-se, ignora; às vezes, quer ir lá. Todo o número é zero diante do infinito. Dessa contemplação solta-se um fenômeno sublime: o crescimento da alma pelo assombro. Mas, este prodígio universal não se realiza sem atritos e os atritos é o que chamamos de Mal. O Mal desconcerta a vida, que é uma lógica. Faz devorar a mosca pelo pássaro e o planeta pelo cometa. O Mal é um borrão na natureza.

As ideias contidas neste texto são fruto de uma série de reflexões que pude fazer ao longo da semana passada e que foram motivadas pelo suicídio do ator Walmor Chagas e pelo filme francês “Amor”, de Michel Haneke, em exibição nos cinemas.
Minha motivação inicial para escrever este artigo se deve ao fato de haver, sobretudo em nossa cultura atual, um grande silenciamento ou, no mínimo, certo mal-estar quando o assunto é