Crônica de um casal quase moderno

O casal unido há quase vinte anos, com uma convivência tão satisfatória quanto pode ser a convivência entre dois seres humanos, acaba de ter uma relação sexual.

Com o auxílio de um vibrador, a esposa chega ao orgasmo e com isso se sente animada para continuar aproveitando a penetração. Satisfaz-se de novo. Terminado o jogo erótico, levantam-se, banham-se e vão à cozinha. Há uma louça a ser lavada e como um bom casal quase moderno, que divide todas as contas da casa igualmente, a esposa, entre ingênua e curiosa, pergunta:

– Quem vai lavar a louça hoje? Eu ou você?

– Você. Eu te fiz gozar…

Silêncio magoado e constrangido.

– Eu também te fiz gozar. Então, você lava a louça hoje!

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Inscrições abertas para Grupo de estudo em psicanálise para 2023

download (8)Já estão abertas as inscrições para Grupos de Estudo em psicanálise com início em 2023

Por que estudar psicanálise em grupo?

O estudo da psicanálise é árduo e envolve muita dedicação individual. Leituras sistematizadas feitas individualmente são imprescindíveis para aqueles que querem conhecer o método de tratamento e o conjunto teórico criado por Sigmund Freud no final do século XIX. Além disso, é altamente desejável que o interessado tenha tido ou esteja tendo alguma experiência como analisando.

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Não se adoece mentalmente por estresse! Contribuições de Freud para o entendimento do padecer mental

download (9)Meu objetivo neste texto é problematizar uma concepção recorrente: a de que causas banais e atuais da vida quotidiana provocam o que em psicanálise chamamos de neuroses e outras desordens mentais.

Uma pessoa procura um analista e lhe diz na entrevista, quando indagada sobre o que ela pensa a respeito das motivações que a fizeram produzir determinados sintomas, que é por causa do estresse no trabalho ou por algum trauma vivido recentemente, ou ainda, por um dissabor no trabalho ou no casamento ou a perda de um ente querido.

O que o analista pensa disso?

Ele pensa que esta pessoa está somente parcialmente do lado da verdade. Vejamos o porquê.

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O paciente obsessivo e a psicanálise

downloadNa semana passada recebi o contato da Aline pedindo-me para comentar sobre como a psicanálise pode contribuir para compreender o paciente que apresenta sintomas obsessivos. Ela escreveu:

Olá, Ana. Gostaria de saber um pouco mais em relação ao paciente diagnosticado com TOC. Como são estruturadas as sessões? Qual o olhar da psicanálise em relação a esse sujeito? E por último o que fazer quando esse sujeito demonstrar resistência principalmente à associação livre?

Meus comentários:

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Cinquenta tons de cinza: a perversão à luz da psicanálise.

imagesRecebi nos últimos meses alguns pedidos de leitores para que eu comentasse o filme lançado no início do ano “Cinquenta tons de cinza”, baseado no livro de mesmo nome. Confesso que não costumo fazer posts por encomenda, já que a motivação para a minha escrita nasce do desejo, de algo que eu vejo, leio ou escuto e que me intriga gerando uma espécie de “comichão interno” que só passa quando eu me ponho diante da tela do computador e deixo o meu inconsciente trabalhar. E dentro de mim não havia nenhum desejo de ver o filme ou de ler o livro. Mas, pensando um pouco melhor a respeito, fiquei curiosa para saber o que, neste filme, havia atraído tantas pessoas. Por isso decidi assisti-lo e averiguar o que seria capaz de comentar sobre ele.

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Homem: sal da terra.

downloadAs reflexões que farei a seguir se baseiam no documentário “Sal da Terra” (2015), produzido pelo cineasta Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado em comemoração aos quarenta anos de carreira do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

Minha proposta é estabelecer um paralelo entre a experiência emocional vivida por Salgado, e que nós vamos conhecendo por meio do que ele escolhe fotografar, e o que acontece em um processo de análise. Em ambos os casos, penso que o que está em jogo não é a capacidade de ver, o que fazemos com o órgão do sentido (olho), mas a condição interna de se enxergar ou não aquilo que vemos.

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A morte é um borrão na natureza.

downloadEm “Os trabalhadores do mar”, de Vitor Hugo, diz o narrador sobre o desespero de Gilliatt, diante do risco de sua própria morte:

            O homem diante da noite reconhece-se incompleto. O céu negro é o homem cego. Com a noite o homem abate-se, ajoelha-se, arrasta-se para um buraco ou procura asas. Quase sempre quer fugir a essa presença informe do desconhecido. Pergunta: O que é; treme, curva-se, ignora; às vezes, quer ir lá. Todo o número é zero diante do infinito. Dessa contemplação solta-se um fenômeno sublime: o crescimento da alma pelo assombro. Mas, este prodígio universal não se realiza sem atritos e os atritos é o que chamamos de Mal. O Mal desconcerta a vida, que é uma lógica. Faz devorar a mosca pelo pássaro e o planeta pelo cometa. O Mal é um borrão na natureza.

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Futebol: agressividade e paixão em busca de representação.

download (6)Recentemente vivi a interessante experiência de estar em uma partida de futebol, em uma final de campeonato; algo completamente inusitado e novo para mim.

Descreverei minhas sensações, impressões e sentimentos diante da experiência para, em seguida, propor uma análise sobre a função que  jogos como futebol e outros esportes competitivos podem ocupar em uma sociedade. Para isso, irei embasar meu pensamento nas contribuições de Freud e da psicanálise no que se refere ao papel da repressão dos impulsos, sobretudo os agressivos, para que um projeto de sociedade seja viável.

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