A avó era surda como uma múmia. Incomunicável com o mundo, habitava um universo próprio, todo seu. Tinha medo de sair dele. Pavor mesmo. Sons humanos soavam em seus ouvidos como gritos horripilantes. Virgínia, a neta, tinha paixão pela esquisitice da avó. Suas peles flácidas, seus olhos caídos, sua tez branquíssima fazia Virginia se lembrar de um fantasma ou de uma bruxa. O silêncio da morte se aproximando era completamente misterioso para ela.
Havia dias em que a mãe de Virgínia, por um motivo qualquer, pedia para que a menina tomasse conta da velha. Eram momentos de puro terror e fascinação. A avó, muito velha e branca, era colocada sentada imóvel em uma cadeira de balanço antiga bem em frente à janela que dava para um pequeno jardim lateral da casa. A miúda se sentava, dura, ao lado da avó, em uma pequena cadeira. Ambas permaneciam imóveis a tarde toda. Virginia punha-se a observar atentamente cada pequeno movimento da velha, enquanto pensava com os seus botões: