A dor “parideira”.

Fiquei muito surpresa e feliz com o número de e-mails carinhosos que eu recebi na semana passada de pessoas agradecendo o meu texto “Reflexões sobre o amor maduro”.

Fiquei pensando, ao receber este grande número de e-mails carinhosos, o que é que este texto tinha despertado nas pessoas. E mais, o que é que ele tinha de diferente dos outros.

Então, refletindo sobre isso cheguei à seguinte conclusão: a escrita deste texto surgiu de uma dor “parideira”. Portanto, este texto é filho da angústia – minha angústia por estar viva.

Quando a dor é “parideira”?

Estou usando aqui o modelo de um parto, por isso uso o termo “dor parideira”. O parto dói, é sofrido, angustiante, mas, se a mulher pode suportar esta dor com continência e amor, será brindada com um imenso prazer ao receber no mundo seu lindo bebê, que fora gerado pelo casal, numa relação amorosa. Estou sendo otimista, mas idealmente era assim que deveria acontecer.

Mas, será que é a toa que muitas mulheres hoje pedem um parto sem dor? Isso é possível? É possível criar algo novo sem que haja alguma dor? É natural que os seres humanos tentem escapar a qualquer custo da dor (física ou mental), mas isso tem um custo e eu acho que o maior deles é que, quando evitamos a dor, também perdemos a possibilidade de sentirmos o prazer porque dor e prazer são duas faces da mesma moeda. Evitando a dor, evitamos também o prazer.

Acredito que a nossa mente funciona da mesma maneira: se podemos suportar doses (às vezes altas) de dor, de angústia, de vazio e de não saber, podemos ser brindados com o nascimento de lindas ideias (bebês) – ideias criativas, vivas e cheias de intensidade.

Então, acredito que foi por isso que este texto foi sentido pelas pessoas como um texto vivo e criativo – porque nasceu da possibilidade de eu poder conter a minha dor por estar viva.

Dor assassina:

Mas, há situações em que a dor não é “parideira”. Ela se torna assassina, cruel e terrível. Quando isso acontece? Quando não há, dentro da mente daquele que sente a dor, a possibilidade de contenção destes sentimentos intensos que são evacuados e passam a “atacar” a mente. Com isso, a pessoa não é mais capaz de aprender com as experiências da vida. Ela se torna refém da fuga de sua própria dor e entra num espécie de círculo vicioso. Isso soou um pouco teórico demais, mas é assim mesmo que funciona.

Outro dia uma aluna me perguntou em sala o que é dor mental e eu me vi em grandes apuros para tentar responder. Pensando depois com mais calma, acho que a minha dificuldade em dar uma resposta “satisfatória” a ela se deve ao fato de que dor a gente sente, a gente não explica. É muito difícil falar sobre a dor, não é? É por isso que eu continuo ensinando para os mais jovens. Por que com eles me vejo constantemente deslocada do velho, das teorias que vão envelhecendo na nossa boca de tanto serem repetidas. Com eles eu não deixo nunca de ir pra casa encucada e me perguntando: “como é que é mesmo isso?”.

E então, finalizo a minha linha de raciocínio usando este “modelo de sala de aula” para dizer que as ideias novas não conseguem nascer sozinhas. Elas precisam de um par, do diferente, ou seja, daquilo me desloque do meu lugar confortável. Sem dúvida, tanto eu quanto a minha aluna curiosa, fomos naquele dia com novas ideias na cabeça e alguma dor “parideira” pronta pra fazer nascer algo novo.

Quer coisa mais bonita que isso?

Abraços a todos e até a próxima semana.

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