Minhas aventuras em Minas Gerais

GuignardMilton Nascimento tem razão. Minas Gerais tem uma melancolia poética bonita demais. Estive visitando Inhotim e Ouro Preto e voltei cheia de reminiscências, desejosa de poder expressar um sentimento evanescente difícil de ser posto em palavras.

Continuar lendo Minhas aventuras em Minas Gerais

O ser poético na modernidade

As articulações produzidas neste texto são fruto de um curso que acabo de acompanhar com o Prof. Franklin Leopoldo e Silva intitulado Filosofia e Intuição Poética na Modernidade, disponível na internet.

Nele, pensando no ser poético ou na identidade do poeta, o filósofo nos instiga com as seguintes questões: na medida em que um dos traços fundantes da modernidade é a degradação e a perda dos valores estéticos e éticos, como pode o poeta viver num mundo sem poesia? Ou, colocado de outro modo, como poderia o poeta continuar a fazer poesia em um mundo sem ideal? Haveria ainda alguma poesia possível para este mundo?

Continuar lendo O ser poético na modernidade

O voo de Miréia

Ela se chamava Miréia. Ou melhor, este fora o nome que Pedro lhe dera depois de encontrá-la numa gaiola minúscula em uma sala escura, órfã de pai, mãe e irmãos. A cena daquela galinhazinha que nunca pisara em grama, piando freneticamente, como que pedindo para ser adotada, fez vibrar alguma corda insondável do bom coração de Pedro que imediatamente, como para salvar uma alma do hiato da não existência, pegou a galinha, enfiou-a no carro e a levou para casa.

Sua esposa Clarice viu-o chegar com a galinha que o seguia pra lá e pra cá, cheia de orgulho por recém ter encontrado uma mãe novinha em folha para ela, e não pôde deixar de ver graça na cena. Afinal, não se sabia muito bem qual dos dois, se galinha ou Pedro, sentiam-se mais sortudos com aquele iniciozinho de amor que já prometia grandes belezas, mas também uma boa dose de dor, porque um não vem sem o outro.

Continuar lendo O voo de Miréia

Pudor e hipocrisia no casamento conjugal moderno: reflexões à luz do pensamento de Simone de Beauvoir.

Uma mulher insatisfeita sexualmente com seu marido que ligasse a rádio na década de 80 e ouvisse a parada pop de sucesso “Amante profissional” (da banda Herva Doce) ver-se-ia seriamente tentada a contratar o serviço.

Na irreverente música o tal amante profissional é descrito como um homem alto, moreno, bonito, carinhoso e sensual, capaz de realizar a fantasia da mulher insatisfeita sexualmente por meio de um relacionamento íntimo e discreto e sem qualquer compromisso emocional.

A cena faz apelo (e sucesso) porque joga com a insatisfação da mulher com aquilo que ela tinha em casa, ou seja, o marido. O amante profissional, alto, moreno, bonito, carinhoso e sensual, é quase sempre o contrário do que era o marido da realidade: por vezes baixo, calvo, já com o abdômen avantajado e largado por anos da prática da cerveja e do exercício tipo controle remoto, estúpido e grosseiro e nem um pouco romântico com o avançar dos anos de casamento, se é que fora um dia.

Continuar lendo Pudor e hipocrisia no casamento conjugal moderno: reflexões à luz do pensamento de Simone de Beauvoir.

O homem forte

Qual a marca fundamental de um ser humano forte? O que é que se reconhece exatamente como sendo a força de uma pessoa?

Freud nos ajuda a pensar sobre isso.

Nas “Cinco lições de psicanálise” (1905) ele diz textualmente que um homem enérgico e vencedor é aquele que, pelo próprio esforço, consegue transformar em realidade seus castelos no ar.

Mas o que exatamente ele quer dizer com isso? O que seriam estes tais castelos que, no homem forte, são erguidos a partir do nada, do ar e que derivam de uma conjunção feliz entre circunstâncias externas favoráveis (Freud nunca deixou de considerar o elemento sorte) e de uma força interna descomunal?

Continuar lendo O homem forte

Para que servem as palavras?

Sem a palavra o mundo humano é impensável. É por ela que expressamos ideias, sentimentos e percepções de mundo, criamos realidades, nomeamos seres e coisas, raciocinamos e tentamos dialogar uns com os outros. De outro lado, quando manejamos mal a palavra ou nos desgarramos de sua função simbólica, afastamo-nos em demasia da verdade das coisas, distorcemos valores e temos dificuldade para nos entender minimamente uns com os outros.

Tendo-se em conta a riqueza simbólica e instrumental da linguagem, será meu propósito aqui refletir sobre, afinal, para que nos servem as palavras.

Continuar lendo Para que servem as palavras?

O falo como condição de alienação

Em psicanálise, uma forma de definir o falo é qualquer símbolo com função imaginária de suturar[1] nossas faltas existenciais. Freud descobriu que o pênis, órgão corporal masculino, tem para crianças de ambos os sexos, a função privilegiada de um falo.

Esta significação do pênis como falo é, obviamente, determinada pela cultura, o que significa dizer que não se trata de um mero acaso que as coisas tenham se arranjado assim. Em uma sociedade matrilinear e não patrilinear como é nossa, o falo bem poderia estar do lado feminino sendo, por exemplo, os seios intumescidos de leite ou o útero.

Continuar lendo O falo como condição de alienação

Minhas primeiras jabuticabas

Que feliz aprendizado estou tendo ao poder cuidar de meu jardim e observar o ritmo próprio da natureza. Tenho me impressionado ao pensar como o cuidado das plantas e a observação atenta do ritmo da Terra podem ser uma rica metáfora da própria vida e de como devemos buscar vivê-la.

Mudamos para nossa casa no mês de maio deste ano e iniciamos nossa jornada nela com um difícil e árido outono. Neste momento, as plantas recém-plantadas e, portanto, ainda muito frágeis, começavam a perder suas folhas, em um processo que parecia de destruição, mas que, no fundo eu sabia ser de renovação. Enfrentando uma dura estiagem, lembro-me de como me senti exigida em minha capacidade de espera pela realidade inóspita porque meus olhos me levavam a crer que aquelas plantas não iriam sobreviver, por mais água que lhe déssemos.

Continuar lendo Minhas primeiras jabuticabas

Contribuições de Aristóteles para uma vida de sentido

O ser humano não é só, ainda que o seja também, um animal. Se de um lado ele está determinado por seus imperativos biológicos (necessidade de se alimentar e de se hidratar, de dormir e de procriar, de defecar e de urinar), o homem busca também transcender sua própria existência. Em uma linguagem bíblica, o homem almeja ser à imagem e semelhança de Deus.

Este seu anseio de transcendência e de superar a si mesmo é um exercício de potência realizadora que o impele sempre em direção a ser o melhor que ele pode em cada situação. Em poucas palavras, o ser humano necessita dar sentido à sua existência e anseia por uma vida de sentido, pelo menos, quando está saudável. Para Simone de Beauvoir “o Homem prefere razões de viver à vida em si mesma”. 

Continuar lendo Contribuições de Aristóteles para uma vida de sentido

Artigo científico revista Estilos da clínica (USP. Impresso) 2014

download

Acesse o meu artigo científico intitulado Ressonâncias do inconsciente materno e familiar na sintomatologia infantil e no setting analíticopublicado na revista Estilos da clínica em 2014.

Referência: MARTINEZ, A. L. M. Ressonâncias do inconsciente materno e familiar na sintomatologia infantil e no setting analítico à luz de um caso clínico. In: Estilos da clínica. (USP. Impresso), v. 19, p. 91-110, 2014.

Continuar lendo Artigo científico revista Estilos da clínica (USP. Impresso) 2014